domingo, 13 de julho de 2014

O grande Gatsby (F. Scott Fitzgerald)

Título: O grande Gatsby
Autor: F. Scott Fitzgerald
Título original: The great Gatsby
Tradução: Vanessa Barbara
Editora: Companhia das Letras
Selo: Penguin Classics
Ano: 2013 (2ª reimpressão)
Páginas: 256





Desconfio que escrever sobre O grande Gatsby será uma tarefa árdua, não que eu não tenha gostado da história, muito pelo contrário, mas não tenho palavras para descrever minha experiência de leitura. Realmente estou sem palavras. Cada vez que jogo alguma letra nesta tela, sinto meu cérebro se contorcer e minha inspiração se esvair.

Quando penso neste livro me vem a cabeça apenas lembranças fragmentadas, recortes infiéis de uma narrativa cuja leitura foi enviesada. Demorei 16 dias, aproximadamente, para terminar esta leitura. Dentro deste período, passei 01 semana sem tocar no livro, não li absolutamente nada. Tinha vindo de um período agitado e não conseguia encontrar a dose certa de disponibilidade para uma boa leitura. Não sei se chega a ser uma ressaca literária ou simplesmente cansaço mental, mas definitivamente não li este livro em um bom momento. Em outra época, afirmo sem sombra de dúvidas, teria tirado melhores proveitos de uma narrativa tão envolvente quanto essa.

Não sei se minha descrição do enredo será livre de falhas, mas vamos lá. O grande Gatsby é narrado por Nick Carraway, um aristocrata falido que vai a Nova York trabalhar como corretor de títulos. Lá ele conhece Jay Gatsby, um homem rico e extravagante, com passado misterioso e alguns negócios não tão lícitos. Os dois acabam desenvolvendo um relacionamento próximo. Não é uma amizade instantânea, é um sentimento que vai sendo construído e que se firma próximo ao fim. Nick, por mais que tente se manter fiel ao seu juízo de caráter, possui suas ressalvas a respeito de Gatsby, vindo a reconhecer o valor deste último mais tarde. Gatsby é apaixonado desde muito jovem por Daisy, esposa de Tom Buchanan, um rico ex-jogador de polo (salvo engano). Buscando viver a ilusão desse tão sonhado amor por Daisy, Gatsby constrói sua personalidade almejando ser o homem que Daisy desejaria. 

Esta é acima de tudo uma história sobre o materialismo. O protagonista viveu toda a sua existência em busca do sonho americano. Ele ansiava ter um futuro melhor do que o que sua origem permitia, sonhava em conquistar a garota ideal e pertencer a aristocracia, que é retratada com floreios, luzes e encantos. Astutamente, Fitzgerald desenha uma sociedade atrativa até para aqueles que participam da história como mero expectador. Quem não gostaria de participar de uma festa na mansão de Gatsby? Se ele me chamasse, eu já estaria lá. É com a mesma habilidade que o autor nos mostra a realidade dos relacionamentos e da vida burguesa, que pode ser bastante vazia, falsa e efêmera. 

Vemos o enredar de relacionamentos complexos. Cada destino cruzado tem por trás uma história de interesses. Eu tive uma certa dificuldade em distinguir a veracidade das relações e dos sentimentos envolvidos nas conexões sociais. Vemos o autor jogar com a nossa percepção a respeito dos nossos próprios valores. Aquele personagem cujo passado poderia condená-lo, na verdade, revela-se o mais verdadeiro de todos. A mocinha que parece tão imaculada, mostra-se deslumbrada e fria. É uma história alicerçada em julgamentos... E eles não são apenas dos personagens.

A escrita de Fitzgerald é muito rica, é belíssima. Ele sabia construir personagens com uma destreza incomparável, uma sensibilidade notável. Nenhum de seus personagens é plano, eles possuem várias linhas, camadas de sentimentos indecifráveis. Vi personalidades que poderiam muito bem ganhar vida e estar aqui na próxima esquina.

O autor foi tão bem sucedido em sua narrativa, que me peguei cheia de rancor pela Daisy. Não consegui criar simpatia por ela em momento algum, ela sempre me pareceu sonsa, mimada, fútil, leviana, o tipo de pessoa que só sabe o que é ter seus caprichos atendidos. O único momento em que ela parece encantadora é através dos olhos de Gatsby. E não é apenas ela não, praticamente todos os personagens vivem de aparências.

O livro foi escrito em 1925, por isso faz muitas referências a músicas, bandas, acontecimentos, entre outras coisas, da década de 20. Acho importante mencionar que a minha edição traz notas explicando alguns trechos importantes. Achei isso maravilhoso, porque assim nenhum detalhe vai passar sem receber atenção. Se você quiser ler sem olhar as notas, não tem problema, dá para entender todo o contexto do livro e no que não der, a imaginação dá um jeito. Outra coisa interessante é a introdução desta edição, escrita por Tony Tanner, que faz uma análise desta e de outras obras de Fitzgerald.

Eu geralmente não gosto tanto de capas que trazem rostos, porque acho que a edição fica muito datada. Normalmente eu prefiro trabalhos mais abstratos ou de imagens mais panorâmicas, contudo, achei linda a imagem da capa, ela retrata bem o período que inspirou a história, só enriqueceu o livro.

Eu gostei muito desse livro, mesmo com a leitura custosa. Achei rico, cativante, complexo, mas ao mesmo tempo delicado. Sei que tirarei lições para minha vida. Quero relê-lo em outro momento, um momento que possa fazer jus ao seu esplendor.





"Seus pais eram fazendeiros preguiçosos e fracassados - sua imaginação nunca os reconhecera como pais. A verdade era que Jay Gatsby de West Egg, Long Island, havia saído da própria concepção platônica de si mesmo. Ele era um filho de Deus."


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Até a próxima! 

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